Na última quinta-feira, 26 de Julho de 2018, as fundadoras Erika Alfenas e Sheyla Santoso, acompanhadas da colunista e repórter Anne Finotti do Portal Empreendedorismo, tiveram a honra de entrevistar exclusivamente o Maestro João Maurício Galindo no evento da Prova Lab.

Em um bate papo informal e descontraído o Maestro, que hoje é apresentador semanal do programa “Encontro com o Maestro” na rádio cultura, diretor artístico e regente titular da Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo e da Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí, conta como iniciou sua carreira e sua luta pela conscientização da importância da cultura no país, finalizando com uma mensagem impactante sobre valorização. Veja matéria completa abaixo:

Maestro João Maurício Galindo: Eu era apaixonado por música desde criança, muito pequenininho, não lembro, mas minha mãe dizia que eu ouvia a música e parava para ouvir com 02 anos de idade, eu sempre fui apaixonado!

Eu ia ser engenheiro ou físico, gostava muito de ciências e exatas, estava indo para esse caminho, mas na adolescência eu fui atrás dessa paixão e confesso que fui estudar música na ingenuidade total, sem traçar plano de carreira.

As pessoas falavam: “Mas você vai trabalhar depois com o quê? Você tem ideia de quanto dinheiro vai poder ganhar?” Eu disse: Não tenho a menor ideia! E eu fui completamente na emoção! Concluiu.

No Brasil eu vi muitos colegas nessa época da juventude e adolescência que naufragou, as oportunidades são poucas e no Brasil falta dinheiro para as artes, infelizmente a gente ouve muitas pessoas que tem algum tipo de poder na mão, seja financeiro, político ou poder de decisão, que falam com todas as letras que cultura é supérfluo. Agora precisamos dizer para essas pessoas que não é, e precisamos dizer porque não é, essa é minha luta!

Tenho programa na rádio, todos consertos eu converso com a plateia, me convidam para palestras eu vou, porque precisamos educar os futuros mecenas, futuros patronos das artes. Um país como a Itália, a França onde a arte floresceu, eles tiveram sempre patronos, mecenas, pessoas que sabem que a cultura é importante.

E isso é uma coisa que ninguém sabe dizer: Por que a cultura é importante? Se alguém disser para vocês que cultura é supérfluo, vocês irão dizer que não! Vocês vão tentar explicar para dizer que não é, e irão travar! Porque aparentemente é supérfluo.

A inovação é fundamental em qualquer ramo de atividade humana. Negócios, empresários precisam ter inovação e o pensamento que gera inovação é o pensamento artístico.

Se você parar para pensar, a palavra cultura vem de cultivar que é a mesma palavra usada para agricultura.

Passa um ano com um cara lá no Rio Grande do Sul que planta uva e faz vinho, vê o trabalho que ele tem para cultivar aquelas uvas e fazer o vinho, depois que o vinho está pronto ele vai ter que ver a forma daquele vinho envelhecer, para ficar melhor e como ele vai vender. A cada ano ele faz isso novamente, depois de 20 anos vira uma cultura, ele cultiva aquilo.

Qualquer ser humano cultiva alguma coisa, se cada um de vocês pensarem irão ver que cultivam alguma coisa na vida, tomam conta, aquela coisa que você gosta.

Dou o exemplo da minha avó, ela era uma velinha, filha de imigrante italiano, fez 02 anos de escola. Ela adorava cozinhar e cozinhava super bem! Ela morreu e deixou cadernos e mais cadernos com receitas que recortava do jornal e colava, ela cultivou aquilo a vida inteira! Aquilo foi o sentido da vida dela! Então uma pessoa que não cultiva nada, é uma pessoa apática.

Estou dizendo a palavra cultivar, isso é cultura! É inevitável, todo ser humano vai cultivar alguma coisa! Como você vai dizer que isso é supérfluo?

No meu caso é música. Fui assistir uma Ópera na Itália em Verona, eles tem uma arena romana que é do tamanho do estádio do Pacaembu e eles fazem Ópera lá dentro, todos anos, e são todos os dias, de junho a agosto e todas as noites estão lotadas!

Entrei lá e vi aquela quantidade de gente e não tinha amplificação de som, quando o maestro começou a tocar, a plateia fez um silêncio, não ouvia um alfinete caindo. Não precisava de microfone para os cantores em um lugar do tamanho do Pacaembu! São pessoas que cultivam, é amor aquilo!

Então quando você não cria um foco nas culturas você tem um população dispersa, são coisas que temos que parar para pensar, e minha vida é pensar nisso! (risos) Não temos os patronos, então sempre temos que pensar em como ir atrás deles.

Portal: Você acredita que sua luta está conscientizando?

Maestro: Estou fazendo minha parte, o Brasil é um país muito grande, nos programas que faço da rádio Cultura temos uma audiência muito boa, muitas pessoas escrevem, mandam e-mails e você vê que tem muita gente apaixonada por música, que é o meu produto, isso me dá uma força, mas poderia ser muito mais. Compara com essa história da Itália, que tem um lugar lotado com 20 mil pessoas todas as noites de junho a agosto, no verão, que só não faz o ano todo porque no frio ninguém iria, e mede por isso.

Aqui temos a cultura do futebol, essa cultura temos, as artes são supérfluas, uma coisa de elite, para poucos.

Eu lembro quando o Masp fez uma exposição com quadros do Monet, fazia fila pela Av. Paulista, quarteirões, tem gente querendo ver, não é somente para as elites! Não é uma coisa para ficar fechado, em um museu que vão 100 pessoas.

Quando você vê um músico que não tem mais amor à música, é triste, quando vê um artista que não gosta do que faz é muito deprê! E quando você vai a um restaurante e até um garçom que tem entusiasmo pelo prato que te serve na mesa, você se sente bem, o cara nem é o dono do negócio, é funcionário, mas ele está envolvido com aquilo, e quando você vê um garçom ou dono que coloca a comida e tanto faz, não tem vontade de voltar naquele lugar.

Muitas vezes compramos um produto em uma loja que o cara que te vende acredita naquilo!

Portal: O que você diria para artistas e empreendedores? Deixe sua mensagem.

Maestro: Vou contar uma historinha: Uma vez, eu não era maestro, tocava em uma orquestra e fui fazer um conserto em um cidade do interior de São Paulo, o ônibus saiu daqui, fomos lá e tocamos, todos cansados, já era tarde, os músicos saíram do palco todos assim “meio down”.

Ai chegou uma senhora de idade, com uma bolsa e falou para mim: “Eu daria um braço para poder tocar duas notas desse seu instrumento, vocês não sabem a inveja que tenho de vocês!” Ela deu um beijo e foi embora. Eu fiquei chocado na plateia, as vezes a gente se desvaloriza, precisa de alguém de fora para valorizar o que a gente faz. Eu fiquei tão feliz! (Conta emocionado).

Eu estava em Portugal, cheguei ontem, quando o avião pousou eu chamei a chefe da cabine e perguntei se ela era a chefe, ela disse: “Sim, por que?” Eu disse: “Porque eu quero elogiar vocês, porque foi um voo muito bom e vocês trataram a gente muito bem!

Ela fez uma cara de “O senhor está falando sério?” e sentou! (risos) “Que bom ouvir isso! Vou falar para minhas colegas, muito obrigada!”.

Você vê pessoas criticando, mas será que você lembra de elogiar quando você teve uma boa experiência?

Essa é a mensagem que eu dou: Se você ver alguém que está fazendo algo com amor e paixão, vai lá e elogia! Isso faz um bem para uma sociedade toda, gera um ciclo virtuoso. É uma coisa que faz falta no ser humano, a gente tende muito mais a reclamar, resmungar do que cumprimentar uma pessoa pelo trabalho dela, pela paixão dela.

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