Pivotar é errado?
Antes de tentar responder à pergunta, precisamos definir o que significa pivotar, pois se não soubermos o significado exato, as chances de uma resposta errada aumentam.
Bem, pivotar é um verbo derivado do inglês, entre tantos anglicismos, que já fazem parte do nosso dia a dia, como escanear e performar. E o que significa então pivotar? Este verbo significa mudar ou girar.
No basquete, o jogador que atua na posição de pivot é aquele que sem mantém, a maior parte do tempo de jogo, em uma região próxima à cesta de defesa, girando para desarmar as jogadas adversárias. Do ponto onde ele fica, está sempre girando para dar assistência ao time.
E nas empresas, o que seria pivotar?
Esse termo é comumente aplicado no ecossistema de empreendedorismo, quando os founders (olha outro anglicismo aí) resolvem mudar a estratégia da empresa, seja porque algo que foi testado não funcionou como se imaginava ou porque o mercado apontou novas oportunidades que não haviam sido detectadas antes.
Mas então a empresa que muda a sua estratégia perde a sua identidade ou o seu propósito? Não necessariamente. A empresa pode adaptar-se ao mercado, pode adaptar seu modelo de negócio, pode adaptar-se a um segmento ou nicho de mercado, ofertando produto com melhor fit (outro anglicismo).
Qualquer empresa pode pivotar, porém é muito mais difícil para uma empresa de maior porte ou idade exercer essa mudança de estratégia, em relação a uma empresa nova, muitas vezes ainda nem constituída formalmente. Por isso, o termo é tão frequente no ecossistema de startups, pois as empresas ainda estão testando suas hipóteses e grandes ajustes e descobertas são mais comuns.
Um exemplo clássico e potente de pivotagem é o YouTube. Muita gente nem imagina, mas a plataforma nasceu com o propósito de facilitar namoros online por meio de vídeo. Com dificuldades para escalar o mercado, a empresa decidiu então focar somente no compartilhamento de vídeos de qualquer natureza e assim conseguiu crescer e atrair a compra pelo Google por 1,65 bilhões de dólares.
Outro exemplo de mudança interessante é a empresa Easy Taxi, que nasceu como uma plataforma para monitorar horários de ônibus urbanos. E o Flickr, você sabia que no início ele foi um jogo de RPG online, que permitia aos players (mais um anglicismo) compartilharem fotos enquanto jogavam? Depois de perceberem que as fotos faziam muito sucesso, decidiram focar no compartilhamento de fotos e o resto da história foi traçada pelo Yahoo, com a compra da startup por 35 milhões de dólares.
Quantos negócios pivotaram durante a pandemia? Quantas adaptações foram necessárias para atender a uma nova realidade e quantas oportunidades surgiram? Aposto que você já está listando mentalmente diversas empresas que pivotaram e se deram bem, não é mesmo?
Definido o termo, voltamos à pergunta original: na minha opinião, não há nenhum problema em pivotar. Afinal, se a empresa não consegue atingir seus objetivos e insiste na estratégia errada, estará fadada ao fracasso ou à estagnação. Igualmente errônea, está a empresa que enxerga uma oportunidade de mercado, reúne as condições para atender a essa oportunidade, mas deixa a chance passar.
É claro que faço minhas ressalvas à mudança de propósito, afinal a proposta de valor da empresa deve ter norteado a criação de soluções para resolver problemas extensivamente estudados, assim como deve ter movido e sustentado o interesse dos founders para chegar até a criação da empresa. Posto isso, não creio que seja muito coerente uma pivotagem que mude o propósito ou a proposta de valor. Aí não seria pivotar, mas abandonar a ideia original e criar outra empresa, o que por vezes é necessário também.
Com graduação em Engenharia, pós-graduações em Marketing e Computação Aplicada à Educação, Mestrado em Educação Matemática e Doutorado em andamento na mesma área, Luis Pacheco tem experiência no mercado financeiro e em empresas digitais, atua como professor no ensino superior, como mentor de startups, como pesquisador e é autor de conteúdo especializado.
