O fim do monopólio Hollywoodiano
O fim do monopólio Hollywoodiano

O fim do monopólio Hollywoodiano

Está claro que Hollywood, ou o que chamamos de Hollywood, vem sofrendo uma decadência na última década, principalmente nos últimos cinco anos.

Neste artigo vou comentar alguns dos fatores determinantes para que isso esteja acontecendo, mas antes de entrar mais fundo neste assunto, precisamos estar na mesma página em relação ao que Hollywood realmente significa.

Depois de viver e trabalhar em Los Angeles, considerada a capital mundial do cinema, eu realmente entendi que Hollywood é uma ideia. Fisicamente podemos definir Hollywood como um bairro de Los Angeles, mas a simbologia por trás dessa palavra vai muito mais além dos limites geográficos.

Hollywood é uma metonímia para a indústria de cinema dos Estados Unidos, mas ela é tão forte e intrínseca na mente das pessoas que muitos chamam de hollywoodianas produções filmadas no Canadá por exemplo, que tem Vancouver como um dos grandes polo de produções cinematográficas. Séries como Riverdale, The Handmaid’s Tale, Schitt’s Creek e The Umbrella Academy são algumas das inúmeras produções filmadas em território canadense.

Mas se por 70 anos Hollywood foi sinônimo de cinema, glamour, perfeição, fama, beleza e ostentação. Hoje é sinônimo de polêmica.

Antes de mergulhar mais fundo nesse assunto é importante deixar claro que quando eu me refiro aqui à decadência de Hollywood, me refiro à decadência da elite dessa indústria, que há décadas detinha de um poder quase que intocável.

Em 2017 vieram à tona relatos de inúmeras mulheres que haviam sido sexualmente abusadas por um dos mais poderosos produtores de Hollywood até então, Harvey Weinstein. Nomes como Gwyneth Paltrow, Ashley Judd, Jennifer Lawrence, Uma Thurman e inúmeras outras atrizes integram a lista de mulheres que foram assediadas pelo co-fundador da Miramax, responsável por clássicos como Pulp Fiction e Shakespeare Apaixonado.

Logo após o escândalo envolvendo Weisntein, o ator já vencedor do Oscar Kevin Spacey foi acusado de abusar sexualmente de um menino de 14 anos. Após a denúncia, mais 30 pessoas relataram terem sofrido assédio sexual e até tentativas de estupro por parte do ator. Kevin Spacey estava no auge de sua carreira com a série House of Cards, que naquela época era um dos carros-chefes da Netflix. A série foi cancelada devido ao escândalo.

Poderosos como Woody Allen, James Franco, Bill Cosby, Cuba Gooding Jr, Chris Noth, Morgan Freeman, Luc Besson e Dustin Hoffman são apenas alguns dos nomes que integram a gigantesca lista de personalidades acusadas de assédio sexual.

A poeira que havia sempre sido empurrada para debaixo dos tapetes vermelhos se revelou ainda mais suja do que muitos já imaginavam ser. Quem um dia colocávamos em pedestais como sinônimo de sucesso, passaram a nos deixar desconfortáveis quando surgiam nas telas ou estavam de alguma forma envolvidos no conteúdo sendo consumido.

Além do fator moral provocando essa decadência, há também um outro fator determinante para isso. Hollywood viveu uma ascencão durante mais de 70 anos, desde os anos 40 com o cinema falado até a chegada dos serviços de streaming. A indústria cinematográfica da Califórnia cresceu muito com a demanda por novos conteúdos, mas a simbologia por trás de Hollywood se enfraqueceu. E ainda bem que se enfraqueceu!

Veja, Hollywood sempre será Hollywood, isso nunca vai mudar. Mas estamos caminhando para uma era em que a produção de cinema e séries de TV pede cada vez mais diversidade, tanto em relação à novos rostos como novos cenários.

Nunca se aprovou tantos programas de incentivo fiscal nos Estados Unidos como nesses últimos anos com a chegada dos serviços de streaming, indicando um importante crescimento para a indústria cinematográfica nacional, e não somente para a baseada na Califórnia.

Nessa era digital em que quanto mais rápido o conteúdo, maior é o engajamento, novos formatos de mídia se tornam rentáveis, novos rostos se tornam famosos e públicos de diferentes personalidades e gostos encontram uma infinidade de conteúdos e opções de entretenimento na ponta dos dedos.

Quem é considerado celebridade para um, é completamente desconhecido para o outro e vice versa. Ninguém mais consome o mesmo tipo de conteúdo. Expectativas mudaram, interesses mudaram, tudo mudou quando se fala em consumo de conteúdo. Alguns preferem filmes, outros séries de tv, alguns se satisfazem assistindo vídeos pelo Youtube, Instagram ou TikTok.

Não vou mentir que é difícil para uma professional como eu que se especializou em produção de cinema ouvir de alguém que sente mais prazer em assistir horas de vídeos na vertical produzidos em segundos do que assistir a um filme de duas horas e meia que levou sete anos para sair do papel, três meses de filmagens e dois de pós produção. Porém essa mudança no comportamento da audiencia é natural e veio para ficar.

Uma coisa não há como negar, o fim do monopólio de Hollywood abre espaço para novas ideias, novos profissionais, novos rostos, novas possibilidades e começa um processo muito necessário de equalização da indústria cinematográfica. Ainda há um longo caminho pela frente, mas esse caminho vem se mostrando mais próspero

Marina Vecchi é Produtora Audiovisual e Mestre em Produção de Cinema pela Full Sail University, nos Estados Unidos. Marina atuou no setor de Home Entertainment da Sony Pictures Brasil como Assessora de Imprensa. Já nos Estados Unidos, trabalhou como assistente de produção em séries como “Westworld”, “Kidding”, produzida e protagonizada por Jim Carrey, o clássico da tv americana “The Goldbergs” e a série original do Youtube vencedora do prêmio Emmy 2020, ‘Could You Survive the Movies?’. Agora baseada em Seattle, Marina atua no departamento de cinema do estado de Washington na aprovação e suporte de produções cinematográficas e séries de tv produzidas na região com o incentivo do estado.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here